quarta-feira, 10 de julho de 2013

ARGOS E O ASSUSTADOR SILÊNCIO DAS ARMAS

Por Gilnei Lima

Argos é uma figura mitológica. Sua representação é a de um cão com cem olhos, que tudo vê, que tudo percebe, nada lhe escapa à atenção. Por isso também, uma constelação recebeu o nome deste ser mítico, por sua concentração de estrelas que são como os tais olhos.

Em meus afazeres, em meus pensamentos e composição de extratos de entendimento, tento ser como Argos e me manter arguto, perceptivo e analítico. Reúno o máximo de informações e opiniões diversas e as analiso, mas sem o dispêndio do tempo, que para mim, inexplicavelmente não precisa ser de longas reflexões para se moldar uma ideia ou um entendimento. Talvez seja uma qualidade natural, talvez o resultado de experiências e exercícios ao longo de minha trajetória, talvez ambos.

Mas há um paralelo Cão de Guarda, sentinela permanente que, de tão zeloso e fiel aos seus propósitos de ser o guardião da casa, é temido e respeitado. Amado e odiado. Todos os sentimentos se sobrevêm a ele, pela sua imponência um tanto aterrorizante. Este Argos tem muito mais do que os mitológicos cem olhos, e muito mais dentes também. Está em muitos lugares ao mesmo tempo, tem muito mais que quatro patas têm garras e seu rosnar é rugido. Se ele aparece no quintal nos assustamos. Se solta-se e ganha as ruas, instala-se o pânico, o medo, e o ranger de dentes.

Mas se estivéssemos ouvindo Argos grunhir, rosnar, mesmo sem latir em seu latido que retumba pelo tom grave que ecoa de sua garganta feroz, saberíamos que ele estava lá. Mas por onde anda Argos? Não se vê ou ouve falar nele. Parece que nem existe, mas sabemos que ele está lá, em algum lugar, arguto, atento, talvez sedento. Mas Argos é um muito bem treinado Cão de Guerra, sabe o exato momento de manter a sentinela, de ficar em posição de sentido, de descansar e, quando atacar para defender seu território de invasores ou de maus tratos em sua própria casa. Defende a sua família dos malfeitores que tentam tomar de assalto sua morada, ou quando um dos residentes da casa tenta agredir, ferir ou maltratar um outro membro da família. Talvez Argos esteja em pleno estado de sentinela, aguardando os tempos que chegarão em breve. Ele sabe que sua casa receberá visitas para o café, almoço e jantar. Será uma hospedagem de muitos parentes que vêm de longe, portanto manterá a posição de sentido, sem descansar. Estará de olhar atento e, quando os visitantes forem embora, a família se reunirá para tomar algumas decisões importantes sobre as coisas domésticas. Dependerá exclusivamente das decisões e da forma como a família reagir aos resultados desta reunião já programada, e para a qual ele foi bem adestrado. Talvez Argos descanse e até durma em repouso reparador. Espero, de toda a minha sincera expectativa, que não brilhem os incandescentes cem olhos em forma de estrelas, nem se ouça o rosnar aterrorizante, quebrando o silencio, tampouco seus afiados dentes, tais como navalhas sejam mostrados em apresentar armas, que por ora mantém-se em silencio inquietante, pois pode estar em nossos calcanhares, sem que percebamos sua presença.

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