Argos é uma figura mitológica. Sua
representação é a de um cão com cem olhos, que tudo vê, que tudo percebe, nada
lhe escapa à atenção. Por isso também, uma constelação recebeu o nome deste ser
mítico, por sua concentração de estrelas que são como os tais olhos.
Em meus afazeres, em meus
pensamentos e composição de extratos de entendimento, tento ser como Argos e me
manter arguto, perceptivo e analítico. Reúno o máximo de informações e opiniões
diversas e as analiso, mas sem o dispêndio do tempo, que para mim,
inexplicavelmente não precisa ser de longas reflexões para se moldar uma ideia
ou um entendimento. Talvez seja uma qualidade natural, talvez o resultado de
experiências e exercícios ao longo de minha trajetória, talvez ambos.
Mas há um paralelo Cão de Guarda,
sentinela permanente que, de tão zeloso e fiel aos seus propósitos de ser o
guardião da casa, é temido e respeitado. Amado e odiado. Todos os sentimentos
se sobrevêm a ele, pela sua imponência um tanto aterrorizante. Este Argos tem
muito mais do que os mitológicos cem olhos, e muito mais dentes também. Está em
muitos lugares ao mesmo tempo, tem muito mais que quatro patas têm garras e seu
rosnar é rugido. Se ele aparece no quintal nos assustamos. Se solta-se e ganha
as ruas, instala-se o pânico, o medo, e o ranger de dentes.
Mas se estivéssemos ouvindo Argos
grunhir, rosnar, mesmo sem latir em seu latido que retumba pelo tom grave que
ecoa de sua garganta feroz, saberíamos que ele estava lá. Mas por onde anda
Argos? Não se vê ou ouve falar nele. Parece que nem existe, mas sabemos que ele
está lá, em algum lugar, arguto, atento, talvez sedento. Mas Argos é um muito
bem treinado Cão de Guerra, sabe o exato momento de manter a sentinela, de
ficar em posição de sentido, de descansar e, quando atacar para defender seu
território de invasores ou de maus tratos em sua própria casa. Defende a sua família
dos malfeitores que tentam tomar de assalto sua morada, ou quando um dos
residentes da casa tenta agredir, ferir ou maltratar um outro membro da
família. Talvez Argos esteja em pleno estado de sentinela, aguardando os tempos
que chegarão em breve. Ele sabe que sua casa receberá visitas para o café,
almoço e jantar. Será uma hospedagem de muitos parentes que vêm de longe,
portanto manterá a posição de sentido, sem descansar. Estará de olhar atento e,
quando os visitantes forem embora, a família se reunirá para tomar algumas
decisões importantes sobre as coisas domésticas. Dependerá exclusivamente das
decisões e da forma como a família reagir aos resultados desta reunião já
programada, e para a qual ele foi bem adestrado. Talvez Argos descanse e até durma
em repouso reparador. Espero, de toda a minha sincera expectativa, que não
brilhem os incandescentes cem olhos em forma de estrelas, nem se ouça o rosnar
aterrorizante, quebrando o silencio, tampouco seus afiados dentes, tais como
navalhas sejam mostrados em apresentar armas, que por ora mantém-se em silencio
inquietante, pois pode estar em nossos calcanhares, sem que percebamos sua
presença.
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