quarta-feira, 8 de maio de 2013

CONFISSÕES DE UM DESENGENHEIRO I E II

É quase um desabafo. Não. É um desabafo, uma limpezinha básica. Há cerca de ano e meio, dois anos, um pouco mais, comecei a me afastar das obras de engenharia, para valer. Na verdade sempre tive paixão pela engenharia das palavras, quase uma arquitetura. Na maior parte do tempo tive uma vida dupla – de engenheiro, escritor e também nas ondas do rádio – me dividindo entre a profissão e a paixão. Até que um dia, as contingencias me levaram, moralmente quase me obrigaram, a me voltar de vez para a paixão.

Trabalhando para uma construtora estava ligado diretamente à duas obras. Uma federal e outra estadual. Na federal, era a construção do novo prédio da Faculdade de Engenharia da UFRGS – Campus Centro. A admnistração federal todo mundo sabe nas mãos de quem está há mais de década. Durante a execução da obra, em sua fase inicial, percebia que algo estava errado em parte do projeto estrutural, chamado de projeto de armaduras ou ferragens, além de erros grotescos em outras partes dos projetos de tal edifício. Quando iniciou-se a etapa de montagem da estrutura da escadaria com lajes em balanço, mandei parar tudo. Algo estava errado. Faltava sustentação. Chamei o competente engenheiro Sérgio Gonçalves, que era Fiscal da FAURGS e, mostrei mais uma vez o que me preocupava. Diante do desconforto que o próprio fiscal sentia em relação à forma como foram contratados os projetos pelo Governo Federal e a péssima qualidade, além das exigencias absurdas de prazos, tudo para ter rapidez e poder tirar fotos na inauguração antes que mudasse o governo.  Em resumo, foi construído conforme projetado, por ordens superiores. Tres semanas depois de construída, a escadaria dos dois primeiros pavimentos começaram a dar seus avisos de que iria cair. Só não caiu, porque se tomou medidas de sustentação. Aí veio o acidente com dois operários, apesar de meus inúmeros alertas e registros formais em diários de obras. Todos conhecem o ditado que diz que a pressa é inimiga da perfeição. Nesse caso a pressa era amiga íntima do politico fanfarrão.
 
Em dezembro de 2009 o prédio da Gerencia Regional  Metropolitana da CEEE incenciou, por falta de manutenção...elétrica! No ínício de 2010 veio licitação, vencida pela mesma construtora em que eu atuava como gestor de obras e residente. No mesmo ano começou a recuperação total do prédio, que incluia aumento de área, elevadores, saídas de emergencia, etc. Todas as adequações necessárias para remendar o furo que existia na construção original de tres andares. Tudo andava bem, mas aí...mudou o governo. Justamente à partir desta fase começaram os problemas. Era fiscal da CEEE que atrasava medição, atrasava aprovação de projetos, encilhavam um problema atrás de outro. A gota d’água para mim foi, pasmem, quando os engenheiros fiscais da própria estatal CEEE começaram a exigir que se burlasse, ou melhor, passassemos por cima de órgãos fiscalizadores e reguladores – São estes: SMAM, para derrubada de árvores sem pedir autorização; esgotos pluviais sem aprovação do DMAE; executar aumento de área com volumes laterais para escadas enclausuradas para escape de emergencia sem novo registro da SMOV; execução aditivada de subestação sem a aprovação da própria CEEE, cujo projeto até onde sei, levou mais de seis meses para ser aprovado, apesar de ter sido realizado por um dos melhores professores da Faculdade de Engenharia da Unisinos. Como a construtora era e ainda é, uma das mais respeitadas em seu segmento, prezando por ética e qualidade, também ao cumprimento de normas legais e técnicas, começou o embate com a fiscalização da CEEE, negando-se a executar os serviços daquela forma bizarra. Assim, a obra está parada e tramita judicialmente a cobrança pelo pagamanto de todo o investimento feito e nunca pago pela CEEE. Adivinhem quem assumiu o geoverno quando começou toda essa baderna? Por essas e por outras que resolvi usar letras ao invés de tijolos, para construir idéias ao invés de frias criaturas de concreto.

Um comentário:

  1. Olha só!
    "O clássico "DEDO NA FERIDA"...Leia este importante artigo crítico, de Gilnei Lima"... Você no meu Facebook!

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