sexta-feira, 24 de maio de 2013

O CRIME DE YEDA CRUSIUS

Yeda Crusius dispensa muitas apresentações, mas para quem apenas se fixa na ideia de que se trata de uma pessoa cuja atuação é exclusivamente na esfera política, é importante sublinhar que ela é economista, foi uma das primeiras diretoras da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, ocupou o cargo de Ministra do Planejamento, foi Deputada Federal por três mandatos e, finalmente, eleita a primeira Governadora do RS, aliás, com votação recorde.

O antecessor de Yeda foi o governador Germano Rigotto, que à bem da verdade, passou seus quatro anos de mandato tentando corrigir o déficit público gerado pelo trágico governo de Olívio Dutra que, com sua inabilidade administrativa e os ranços ideológicos que mergulharam o estado em um redemoinho econômico, de descrédito e instabilidade permanente, além do claro apoio às invasões de terra e atos de anarquia política que só não foram maiores, graças à sensata atitude da população que elegeu Olívio, mas não apoiou o então governador em seus  extremismos de esquerda.

Diante deste cenário de pré-convulsão econômica, já eleita, Yeda buscou apoio prévio com o governador que deixava o Piratini, buscando medidas para equilibrar as finanças do estado, mas que seriam medidas antipáticas ao meio empresarial, mas que seriam necessárias à recomposição do caos que Rigotto não conseguiu superar, também porque a feroz oposição do partidarismo rancoroso impedia qualquer movimento no sentido de saneamento ou minimização dos graves problemas de toda a ordem, partindo da premissa da condição financeira do RS.

Para composição do governo de Yeda Crusius, o primeiro passo foi buscar um nome cuja referencia era vir do meio empresarial. Um profissional e conhecedor do mercado, das ligações com o segmento comercial e industrial. Alguém que falasse o idioma dos empresários, que geram empregos, produz receitas e fortalecem a economia. Uma decisão sábia, porém fatal.

A crucificação de Yeda Crusius, sem trocadilhos, começou justamente antes de se tornar governadora e pela escolha de seu Vice-governador, aquele nome vindo do meio empresarial, pois as medidas emergenciais que teriam que ser tomadas para buscar resgatar o estado de uma iminente falência, atingiria diretamente a rentabilidade das empresas, com ações que impactariam no ganho imediato, sem que houvesse um suporte ao plano, cuja visão seria de ganhos a médio e longo prazo, como em uma espécie de parcelamento da falência, das perdas e prejuízo globais do estado, que já não tinha mais recursos para cumprir seus compromissos básicos.

A ruptura da aliança política se deu antes mesmo da posse, assim, a Governadora deu início a um mandato em permanente estado de tensão e conflitos. Uma quase interminável batalha cotidiana, onde dia sim e outro também, surgiam denuncias e acusações cujos fundamentos sempre foram duvidosos e nunca trazidos à luz do esclarecimento. Ora, se o próprio Vice-governador era o primeiro a sustentar e cuidar de dar vazão a notícias de supostas irregularidades no governo do qual fazia parte e tornava-se adversário interno, porque não se desligava do cargo? Nunca se ouviu quaisquer comentários de que Paulo Feijó, o vice, já que havia denuncias de improbidades, seria “cúmplice”, pois era integrante do governo.

O fato é que, graças aos atos destemperados do vice-governador Paulo Feijó, Yeda se viu totalmente isolada e praticamente sem apoio político para buscar as soluções que urgiam e eram tão ansiadas pela sociedade.

Daí o prato estava na mesa posta com todos os talheres, servido por quem deveria ser o último a puxar a toalha. Mas deixando um banquete à oposição ferrenha e rançosa, que deitou e rolou, em gargalhadas. Fazendo da propaganda enganosa, tão bem usada como uma de suas especialidades. Uma arma poderosa que fez quase todos acreditarem na improbidade da governadora, cuja única grande falha foi de não ter sido uma mera operadora da policagem, talvez politiquice. Quem sabe, politiquismo falado em bom politiquês.

O crime de YEDA CRUSIUS foi ser a economista que buscava alternativas, dentro do mais amplo conhecimento em economia, por sua grande fundamentação acadêmica. O crime também foi de tentar ser uma administradora profissional, onde só prevalece e reina o submundo dos profissionais da política, cuja metodologia é consagrada no “Toma lá, Dá cá”.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

CAVALEIRO ERRANTE


Abriste a armadura, senti tua forma.

Retiraste o elmo e vi teu olhar, teu semblante.

No teu olhar, havia a ternura oculta.

...

O doce olhar de quem sabe que todas as amarguras se esfacelam,

quando se vê verdade diante dos olhos,

pois o tempo, senhor de todas as eras, regulador de nossa trajetória,

já te permitiu sonhar e sofrer.

Sorrir e chorar por vezes demais.

Mas as lágrimas são cicatrizes impressas nas almas,

para que elas possam reconhecer que diante de si

pode estar uma verdade simples,

porém perene nesta correnteza imparável que entendemos por vida.

Se ergueres novamente teu Excalibur contra aquele que se aproxima,

se mantiveres o escudo em guarda,

poderá deixar de perceber que se postou diante de ti um guerreiro ferido,

cujas feridas profundas, por vezes sangram.

Mas o guerreiro tem a força e a experiência de ter lutado muitas guerras e vencido todas elas,

mesmo aquelas em que não hasteou bandeiras.

Não quer mais batalhas e guerras em sua jornada.

Quer os campos de paz.

Aconchego da brisa sobre os campos de trigo,

sentir o gosto cálido da água do riacho que corre ao largo da estrada

que me conduziu à sua majestosa presença.

Diante de ti me rendi de joelhos em terra,

para que pousasse tua espada em meus ombros

e me tornasse teu Cavaleiro,

sem títulos,

despojado de honrarias de nobreza.

Simplesmente teu Cavaleiro.

Abriste a armadura, senti tua forma.

Retiraste teu elmo e vi teu olhar.

Senti o gosto de beber em teu cálice.

O vinho maduro, de sabor que desconhecia,

preparado das melhores de todas as castas.

Habitei em teu castelo e retirei-me para o posto de vigília.

Guardarei minha espada,

com a certeza de que ali, diante de mim,

ainda vejo o caminho que me leva de volta ao teu encontro.

Pois, mesmo que no trotar de meu cavalo,

eu, um imponente e destemido guerreiro,

sentir que se esgotam os meus dias,
é em tua direção que sempre terminará a estrada

CASTANHOLAS

Em compasso crescente
Como um ritual de louvação
Uma fogueira no centro, ardente
De tudo é a grande atração
As tendas de lonas de todas as cores
Muitas risadas felizes
Em espanta dores
São muitos sabores de coisas sortidas
Com cheiros de ervas e essências
Efervescências
Em tristezas perdidas
Uma multidão de gitanos,
Gente que mesmo sofrida
Faz permanente convite,
Convidando para a vida
Minha alma é cigana
De pátria desconhecida
A corda tensa da guitarra faz os acordes em descarrilada
Um fulgurante e choroso lamento
É musica reverenciada.
Neste mundo ninguém está só
Numa vila cigana se é nômade
Em permanente busca por nova parada.
A fumaça dos narquilés se evola
As rendas e saias rodeiam esvoaçantes no pulsar
Das castanholas

quarta-feira, 8 de maio de 2013

CONFISSÕES DE UM DESENGENHEIRO I E II

É quase um desabafo. Não. É um desabafo, uma limpezinha básica. Há cerca de ano e meio, dois anos, um pouco mais, comecei a me afastar das obras de engenharia, para valer. Na verdade sempre tive paixão pela engenharia das palavras, quase uma arquitetura. Na maior parte do tempo tive uma vida dupla – de engenheiro, escritor e também nas ondas do rádio – me dividindo entre a profissão e a paixão. Até que um dia, as contingencias me levaram, moralmente quase me obrigaram, a me voltar de vez para a paixão.

Trabalhando para uma construtora estava ligado diretamente à duas obras. Uma federal e outra estadual. Na federal, era a construção do novo prédio da Faculdade de Engenharia da UFRGS – Campus Centro. A admnistração federal todo mundo sabe nas mãos de quem está há mais de década. Durante a execução da obra, em sua fase inicial, percebia que algo estava errado em parte do projeto estrutural, chamado de projeto de armaduras ou ferragens, além de erros grotescos em outras partes dos projetos de tal edifício. Quando iniciou-se a etapa de montagem da estrutura da escadaria com lajes em balanço, mandei parar tudo. Algo estava errado. Faltava sustentação. Chamei o competente engenheiro Sérgio Gonçalves, que era Fiscal da FAURGS e, mostrei mais uma vez o que me preocupava. Diante do desconforto que o próprio fiscal sentia em relação à forma como foram contratados os projetos pelo Governo Federal e a péssima qualidade, além das exigencias absurdas de prazos, tudo para ter rapidez e poder tirar fotos na inauguração antes que mudasse o governo.  Em resumo, foi construído conforme projetado, por ordens superiores. Tres semanas depois de construída, a escadaria dos dois primeiros pavimentos começaram a dar seus avisos de que iria cair. Só não caiu, porque se tomou medidas de sustentação. Aí veio o acidente com dois operários, apesar de meus inúmeros alertas e registros formais em diários de obras. Todos conhecem o ditado que diz que a pressa é inimiga da perfeição. Nesse caso a pressa era amiga íntima do politico fanfarrão.
 
Em dezembro de 2009 o prédio da Gerencia Regional  Metropolitana da CEEE incenciou, por falta de manutenção...elétrica! No ínício de 2010 veio licitação, vencida pela mesma construtora em que eu atuava como gestor de obras e residente. No mesmo ano começou a recuperação total do prédio, que incluia aumento de área, elevadores, saídas de emergencia, etc. Todas as adequações necessárias para remendar o furo que existia na construção original de tres andares. Tudo andava bem, mas aí...mudou o governo. Justamente à partir desta fase começaram os problemas. Era fiscal da CEEE que atrasava medição, atrasava aprovação de projetos, encilhavam um problema atrás de outro. A gota d’água para mim foi, pasmem, quando os engenheiros fiscais da própria estatal CEEE começaram a exigir que se burlasse, ou melhor, passassemos por cima de órgãos fiscalizadores e reguladores – São estes: SMAM, para derrubada de árvores sem pedir autorização; esgotos pluviais sem aprovação do DMAE; executar aumento de área com volumes laterais para escadas enclausuradas para escape de emergencia sem novo registro da SMOV; execução aditivada de subestação sem a aprovação da própria CEEE, cujo projeto até onde sei, levou mais de seis meses para ser aprovado, apesar de ter sido realizado por um dos melhores professores da Faculdade de Engenharia da Unisinos. Como a construtora era e ainda é, uma das mais respeitadas em seu segmento, prezando por ética e qualidade, também ao cumprimento de normas legais e técnicas, começou o embate com a fiscalização da CEEE, negando-se a executar os serviços daquela forma bizarra. Assim, a obra está parada e tramita judicialmente a cobrança pelo pagamanto de todo o investimento feito e nunca pago pela CEEE. Adivinhem quem assumiu o geoverno quando começou toda essa baderna? Por essas e por outras que resolvi usar letras ao invés de tijolos, para construir idéias ao invés de frias criaturas de concreto.