segunda-feira, 2 de maio de 2011

Em nome do Pai

Todos nós temos origem. A maioria das pessoas que conhecemos é de descendência alemã, italiana, portuguesa, espanhola ou mesmo de outras nacionalidades. Porém, independente de raça, cor ou crenças, todos nós temos ou tivemos pai.
            Ele pode ser culto ou ignorante. Alegre ou carrancudo. Mas, ele deve ter sorrido pelo menos uma vez em sua vida, mesmo que tenha sido intimamente. Foi quando nós nascemos.
            Ah! Pai. Que saudades do tempo em que tu eras o meu cavalinho preferido. E eu galopava pelo mundo, montado em tua barriga. E como era bom te ver chegar do trabalho e, mesmo exausto, encontravas forças para ser o meu inimigo. Duelávamos na sala, prontos para sacar nossas armas de fantasia, com a porta ainda aberta às tuas costas. E, como eu sempre fui mais rápido, atirava primeiro. E tu desabavas fulminado, aos meus pés, ferido mortalmente pelo amor ao teu filho.
            Eu sei, Pai. Deves ter te sentido um pouco Deus, quando me viste nascer. E imaginou que sabias o que o Pai Eterno sentiu, quando o "Filho do Homem" veio ao mundo. E Ele, em sua grandiosidade infinita, também deve ter derramado uma lágrima.
            Meu velho. Hoje sei que não foi fácil entender o que eu queria, quando te pedi um “gurrum”. Até que, maravilhado, descobriste do que se tratava, pois em uma vitrine de loja, eu apontava para um coelho de pelúcia. Então, contastes os trocados e viu que não eram suficientes. Aquele dia voltou para casa te sentindo a pior das criaturas.
            Aprendi a caminhar amparado por tuas mãos, e fizemos longas caminhadas juntos.
E, quando eu cansava; tu sempre incansável me carregavas. E eu observava tudo à minha volta, do alto dos teus ombros. Eu queria que soubesses, que sempre me sentia no mais alto dos pedestais.
            O tempo se foi, e me tornei adulto. O meu mundo se modificou, e vivo me perguntando se foi para melhor.
            Sabe? Lembro-me do teu orgulho, quando me viste subir ao palco de formatura, para receber o meu diploma. E tu, na platéia, sorrias com os olhos, pela minha conquista. Mas no teu íntimo, a conquista foi tua. Mesmo que tenha sido anônima.
            Queria poder te dizer, que comecei a te ver como um homem, naquele dia em que te vi chorar escondido, para que eu não visse, pois “homem não chora, chia”, lembra?
            Então nasceu o meu filho. Tua felicidade duplicava, pois se tornara pai, em dobro. Porque avô é pai, pelo menos duas vezes. Fazendo eco ao sobrenome. E sei, também, que quando brincavas com ele, tu matavas um pouco da saudade que sentia por eu não ser mais criança e, não estar mais ao alcance do teu colo.
            O meu herói e vilão, ficou com os cabelos grisalhos pelo tempo. O mesmo tempo que me mostrou, que sob a tua camisa, em teu peito, não havia um “S”, mas um coração. Este mesmo coração que entregaste inteiro à mim, e que nem sempre dei-lhe o valor merecido.
            Tenho certeza que, onde quer que estejas; estarás torcendo para que eu tenha sucesso. E que meu filho me dê, as alegrias que nem sempre te dei. E que me sinta como te sentistes, quando descobrir nele os meus traços. Tenha certeza, de que bem mais do que a semelhança física herdamos o teu caráter, que sempre será o maior legado de tua existência.
            Espero que não seja tarde para reconhecer em ti, o único e leal amigo que tive em todas as etapas de minha vida. Todas as vezes que sofri, sofreste comigo. Todas as vezes que venci, te sentiu um vitorioso. Todas as vezes que perdi, me ensinou a começar de novo. Me ensinou também, que ser homem, é bem mais do que ter músculos fortes. É reconhecer nossos erros e corrigi-los. É pedir perdão, e perdoar. E sustentar a certeza até o fim.
            E fizeste tudo isso, gratuitamente. Somente por amor. Fizeste em meu nome, como fizeste em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O mesmo Espírito Santo que te transportou pela eternidade, quando ouviu pela primeira vez eu te chamar de Papai.