quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Abismo Espiral




O Início
São nestes momentos que a mente navega na introspecção da alma, talvez do espírito, não sei. Aliás, faço muitas confusões sobre o que é alma e espírito. Experimentos dentro da mente são muito mais fáceis do que se imagina. É o que separa os grandes realizadores de pensadores medíocres, que é como me defino, a coragem. Sim, a coragem de vencer a barreira da inércia e partir para a ação.
Certa vez tive oportunidade de ler uma máxima simples, mas marcante, que nunca me saiu da lembrança. Um conjunto de frases de desafio que ficaram impregnadas em minha memória: “Eu conheço pessoas sem ação. E que sempre serão sem ação, pois nunca terminam aquilo que começam”.
Sinto-me horrível ao deparar com essa lembrança, pois parece que estas frases foram escritas sobre mim e para mim. Eu sou o conteúdo das frases. Elas me descrevem em pouquíssimas palavras. É horrível reconhecer, mas é a verdade. Eu sou o inspirador destas afirmações.
Como pode alguém dizer certas coisas, supostamente ao acaso, e atingir tão em cheio certas pessoas, partindo do pressuposto de que somos todos absolutamente diferentes, como as árvores que mesmo sendo da mesma espécie e plantadas no mesmo instante, acabam por ter diferentes números de galhos e folhas? Algumas darão frutos e outras não. Mesmo aqueles nascidos gêmeos univitelinos, apesar de idênticos na aparência têm muitas diferenças.
Ocorre que não somos tão diferentes assim. Somos parte de um grande todo que se fragmentou, para que possamos aprender a nos unir como partes de um quebra-cabeça, sobretudo para entender como a vida funciona. Precisamos de humildade para começar a compreender nossa ignorância sobre a vida. Principalmente quanto à vida real, sobre a qual somos analfabetos.
Recebem asas aqueles que não sabem voar, mas precisam. Justamente para que possam aprender a usar estas ferramentas com as quais foram dotados, tal e qual os pequenos pássaros recém nascidos, para que um dia ganhem as alturas; nadadeiras aos peixes para que possam mergulhar nas profundezas das águas. Os homens receberam uma fração de inteligência. Da inteligência vem a inspiração para questionar e buscar respostas. Todas as respostas são encontradas na imaginação, na criatividade e nas observações. Na capacidade singular de também ser um pouco criador, como o Criador de tudo o que há, seja Ele quem for ou que nome tenha. Se é que pode ser nominado. Exercitando a inteligência e a inventividade, adquirimos sabedoria. E a sabedoria é um privilégio concedido exclusivamente ao homem, pois a ele não foram concedidas asas, mas um dia teria que voar. Nem nadadeiras ou pulmões resistentes aos líquidos, mas um dia ele teria que mergulhar nas profundezas das águas.
Não há ninguém neste mundo que não receba, desde o nascimento e ao longo do curso de sua existência, uma embriagante lavagem cerebral sobre religiões, seitas, crenças, dogmas e rituais litúrgicos, dos quais é quase impossível se desvencilhar. Ensinam-nos sobre pecados e falsas virgens. Que existem santos e anjos de um suposto céu, acima das nuvens. Que neste lugar inatingível aos mortais, enquanto vivos, existe uma divindade suprema. Chamam-lhe por diversos nomes. As seitas e credos mais inúteis e ridículas multiplicam-se como baratas e moscas, talvez pior, como microorganismos que infectam os corpos septicêmicos que acabam por sucumbir. Digo isso, apenas por entender que a espiritualidade nos une em algum ponto do universo; todas as religiões nos dividem.
Nos quatro cantos da terra (que apesar da forma esférica do planeta, possui cantos) entoam-se cânticos e hinos de louvor a ninguém que seja realmente conhecido. Quase tudo por conta de ditos profetas ou visionários que, quem sabe por sua criatividade e imaginação, apregoaram ter recebido mensagens ou ordens expressas de um ser soberano. E para cumprimento destas ordens, há milênios os homens se matam, se degradam, se escravizam, fazem guerras (algumas chamadas até de santas!), se vendem ou são comprados e mentem vergonhosamente para aqueles que chamam de semelhantes. Iludem pela boa oratória e capacidade de liderar e mobilizar pessoas em torno de si. Principalmente os mais humildes, menos afortunados ou que sofrem pelo desespero de doenças ou contingências da vida.
Fala-se em tempo. Esquecendo-se que o relógio foi invenção do homem. Contam-se datas, quando pouquíssimos sabem ou lembram que já existiram muitos calendários. O atualmente usado em todo o mundo ocidental e boa parte do oriental é o chamado gregoriano, criado pelo Papa Gregório. Portanto é uma farsa. Este calendário foi criado com objetivos de política religiosa, determinando por decreto papal, inclusive o dia do nascimento do grande astro desta seita maliciosa chamada de Católica Apostólica Romana, um sujeito chamado Jesus, que se de fato existiu, não teve a trajetória de vida conforme foi romanceada no mais famoso impresso desta empresa que explora há séculos boa parte da humanidade – A Bíblia – que para quem não sabe, significa simplesmente Livro.
Como se não bastasse, mais recentemente na história, uma avalanche de fãs do astro criado pela igreja romana, se reúnem em número cada vez maior e mais assustador, como seguidores de espertalhões que se autodenominam “pastores” e literalmente esfolam a lã de suas ovelhas idiotas. Abominam a igreja de Roma, mas seguem rigorosamente a cartilha escrita por ela. À Saber, a Bíblia foi escrita, organizada, editada e impressa pela igreja católica apostólica romana, depois de ratificada pelo concílio de Nicéia no século IV.
Tudo o que aprendemos sobre deuses e religiões desde nosso nascimento é farsa. O tempo é uma farsa. Sempre foram os homens mentindo para os homens, para dominar e ter poder sobre os outros homens. A fragilidade intelectual de uns, subjugada pela criatividade, iniciativa e, por assim dizer, esperteza de outros, criou uma humanidade débil e cada dia mais desorganizada. Que destrói e rompe seus vínculos com o que tínhamos de melhor e nos fazia diferentes das outras espécies viventes: A natureza humana.
Não espero que alguém acredite nas coisas que estão sendo ditas, pois certamente isto deve ser obra do demônio, satanás ou outro bicho qualquer. Quem sabe bicho-papão? Em outras crenças talvez seja “haram”, pecado, blasfêmia, etc. E sabe por que é difícil aceitar como possíveis estas coisas? Porque todos estão contaminados pela infecção generalizada. Pela lavagem cerebral que todos nós sofremos. 
            Por essas razões, ou pela falta delas, é que de forma quase inevitável nossas vidas precipitam-se neste profundo e, quase inexpugnável, abismo espiral.

Se Deus existe sua obra é perfeita, mas incompleta
            Somos magníficos sonhadores, inventores e descobridores, talvez porque tenhamos sido criados à imagem e semelhança de um Deus. Sendo assim, pela lógica, tem que existir espírito que é pré-requisito para existir intelecto, onde se forma a imaginação que pela própria expressão, indica a formação de imagens na blindagem dos pensamentos, quer existam ou não.
            A obra deste Deus é perfeita, mas incompleta. Se fosse, não haveria sentido a existência do Homem. Não haveria dúvidas. Não teríamos necessidades de respostas, não haveria ansiedade, não avançariam os estudos das ciências. Não seriam tecidos os conceitos de filosofia. Não haveria necessidade de existirem os sacerdotes para apaziguar as almas e iluminarem as ignorâncias dos espíritos, e os psiquiatras já se formariam obsoletos. Todas as coisas e fatos já teriam iniciado, ocorridos e terminados. Não viveríamos no durante, tampouco contemplaríamos o depois.
            Ontem é o hoje que mudou de nome. Amanhã é simplesmente o hoje que ainda não amadureceu. Não existe ontem, nem existirá amanhã. Apenas o predomínio eterno do hoje sem começo, meio e fim.
            Todos nós que acreditamos que existe o tempo, somos prisioneiros de uma metáfora que insistimos em materializar, mesmo que tenhamos a mais absoluta consciência de que não se pode pará-lo, tocá-lo ou medi-lo. Isso mesmo! Quem acredita que essa invenção humana existe de fato, estaria sugerindo, quase determinando que, na hipótese de um fim do mundo, uma parte dele acabaria doze horas antes ou depois.  Inventamos também os pontos cardeais. Como poderia alguém que vive no chamado ponto leste, estar permanentemente no leste se todos sabem que a terra gira sobre o próprio eixo. Se for assim, deve haver um determinado momento em que, quem estava no leste fica no oeste, mesmo sem sair do lugar. Dentro destas mesmas absurdas convenções, há o dilema do norte e do sul. Bem, se o eixo de rotação do planeta é em plano inclinado, ligeiramente à esquerda, segundo dados geográficos e astronômicos, quem vive no norte na verdade está mais para o noroeste e os do sul estão a sudeste, assim por diante. Portanto, nessa óptica caleidoscópica das teorias sobre a vida, universo, tempo e espaço, tudo não passaria de uma grande ilusão criada pelas mentes sonhadoras dos homens, herdada deste Deus, magnífico sonhador.
            Quando digo “Deus, um sonhador”, não faço alusão desrespeitosa ao Grande Arquiteto do Universo, Oxalá, Alah, Eli, Jeová, Ieve,Vishnu ou qual seja o nome pelo qual nos referimos ao Logos da criação, tampouco faço deboche. Simplesmente sublinho essa fantástica virtude que nos foi oferecida e que devemos exercitar, pois de um sonho emergiu toda a vida conhecida e aquela que ainda é desconhecida por nós desta superfície, da qual nos libertamos temporariamente quando nos permitimos sonhar. O sonho é um incrível meio de transporte. Nada inventado pelo homem pode igualar-se a isso. Nele passamos do inferno ao paraíso. Transpomos galáxias; revemos pessoas desaparecidas; imaginamos como desejamos nosso próximo hoje sem a necessidade expressa de estar lá, ainda. O mundo do sonho é mais real do que se possa avaliar, pois nos sonhos é que planejamos e projetamos com imagens em cores, tudo que gostamos ou detestamos. O que desejamos e o que queremos evitar. O primeiro passo para entender os sonhos é acreditar neles, não apenas em sentido de poesia, mas como instrumento real e de vida.

            A consciência do homem ao emergir do sonho, traz versões completas ou parciais das coisas imaginadas. Coisas verdadeiras, mas também fragmentos de sentimentos próprios da natureza humana como o medo, a vergonha, a inveja, a ira e outros sentimentos pobres como esses. Aí se pode incorrer numa falha perigosa: A ilusão.
            Como células degeneradas de um câncer, a ilusão destrói a construção dos benefícios promovidos pelos sonhos. Os sonhos, como ponto de partida para a vida, ensejam aspirações para a existência dos indivíduos que, regressando do estado de retiro da consciência, ficam aptos a realizar seus sonhos projetados, ou não. Dependendo apenas de sua livre vontade. Se preferirmos, podemos chamar de livre arbítrio.
 Aqueles que se perdem na penumbra das ilusões e lá permanecem, têm dificuldades de discernimento entre o que ainda é imagem sonhada e o que já foi realizado. A alguns desses convencionamos chamar de loucos.
Pode parecer ironia, mas praticamente tudo que regula nossas vidas, todos os conceitos, todas as teorias, todas as fórmulas foram desenvolvidas por loucos. Pitágoras, Hipócrates, Sócrates, Platão, Descartes, Lavoisier, Copérnico, Einstein, Freud, Van Gogh, o doidão do Mozart, Beethoven que além de louco era surdo. Isso sem falar que alguns sacerdotes à serviço do reinado do Vaticano criaram os malucos dos apóstolos que juraram de pés juntos que viram Jesus três dias depois de morto, e mais, ainda comeu com eles. Pode? Agora, vamos ser sinceros. Quem é mais louco? Os loucos que sonharam, imaginaram e formaram a nossa sociedade e transformaram a humanidade, ou nós que seguimos ao pé-da-letra tudo aquilo que eles nos fizeram acreditar e nós simplesmente engolimos?
Então, como ficaria muito chato admitir, nós resolvemos outorgar-lhes o título de gênios, como reverência, para disfarçar nossa estupidez.
Um estado mais agravado da ilusão é o das alucinações. Este sim, estado patológico do sonhador que, tendo permanecido no mundo dos sonhos perdeu contato com o exterior, desenvolvendo um estado agudo de ilusão, assim perdendo a capacidade de reconhecer diferenças entre o estado de corpo e o estado de espírito. Os alucinados são conduzidos a essa condição por situações traumáticas tanto espontaneamente, quanto acidentalmente dependendo das circunstâncias que conduzem o indivíduo a esse estado. No primeiro caso, temos aqueles que se drogam, no segundo os que sofrem acidentes físicos. Porém ambos experimentam capítulos de inferno do qual pode não haver retorno.
Pois bem, se Deus existe, Ele é a essência do sonhador, o alucinado só pode ser o contraponto, ou seja, o demônio. Mas Deus acima de tudo, por convenção, é o Pai de toda a criação. Tudo Dele provém. Tudo é Sua obra, tanto o bem, quanto o mal. O bem só se justifica porque existe o mal, assim como o homem só foi criado para dar continuidade à obra Divina. Pode-se então sugerir que o sonho é o equilíbrio perfeito, não está no corpo, mas não está fora do corpo. Surge da sinergia entre alma e espírito, nem lá, nem cá. Está no meio.
Sendo assim, não fica difícil admitir que o Homem seja a dualidade concebida pelo sonho divino: O bem e o mal; O sonho e a alucinação; Anjo e demônio. Tão harmônico quanto o homem e a mulher, que se completam para reproduzirem e dar continuidade à vida.
O pensamento é um estado superficial do sonho. Para sonhar é necessário encontrar o ponto médio, o meio. E então meditar, isto é, agir com o pensamento em equilíbrio perfeito entre a consciência e a inconsciência. Distante o bastante do corpo, que não sofra interferência do mundo exterior, mas próximo o suficiente para não abandoná-lo, e assim usufruir o aprendizado que isto proporciona. Principalmente paz e equilíbrio. 
            Quando o pensamento vaga é o espírito que o conduz pelo mundo real – o mundo onde não existem fronteiras. Assim, nos afastamos do corpo sem deixá-lo. Isto porque existe a âncora vital da anima para que a matéria não entre em processo de liquidação. A anima é o que chamamos de alma, aquela que anima o corpo físico. É o elo entre o corpo e o espírito.
Se não for desse modo, jamais poderemos acreditar em Deus, pois na prática ele apenas existe em nossos sonhos.
Nota do Autor:
Confesso que tentei por várias vezes avançar. Desisti até o presente momento. Talvez não seja uma desistência permanente, apenas uma pausa para exercitar a coragem necessária para dizer o que deve ser dito, ao meu modo, do meu jeito... Talvez, como diria Frank Sinatra: My Way.

Esta é, sem dúvida, uma obra incompleta. Quero dizer, a minha!
 

Um comentário:

  1. Copiei trechos do texto por considerar perfeitos. Quero deixar alguns apontamentos, como por exemplo, estou aprendendo que Jesus deixou mensagens que, lidas à luz do conhecimento, descortina os mistérios da vida (à luz do conhecimento!). E, para mim aquele que alucina sofre perturbação do estado de consciência, não distinguindo entre realidade e o que é produzido fora dela. O real como algo situado dentro dos 5 sentidos conhecidos por nós. Mas, não acho que possamos chamar o alucinado de demônio nem de porção maléfica do criador. Será que o demônio não é aquela porção em nós que insiste em desistir e querer derrubar os próprios sonhos?

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