Inconfundível pelo trajar, andava sempre muito bem vestido. Alinhado como ninguém, usava ternos escuros com padrões riscados e, a permanente gravata borboleta que sempre combinava com o lenço aparente no bolso superior do paletó. Outras características de Seu Ezequiel eram, o bigodinho à moda Clark Gable e os cabelos, sempre lambidos com brilhantina, nos quais volta e meia passava um pente esculpido em osso, da marca Carioca.
Casado com D. Elvira, tiveram um filho. O menino chamava-se Éden, para acompanhar o nome bíblico do pai. O garoto tinha cerca de oito ou nove anos, isso no início dos anos sessenta.
Todos os dias ao cair da tarde, Éden reunia os colegas para um bate-bola, no meio da rua. Até aí tudo normal. O problema é, que Seu Ezequiel não admitia que o filho ficasse com a garotada da rua, jogando bola. Pelo menos, quando ele chegasse da repartição, queria o menino dentro de casa. Que fosse como ele tinha sido e se consumisse em estudos de línguas, gramática e aritmética e, é claro, sem faltar o Latim. O português haveria de ser perfeito, como o dele. O fato ocorreu na Rua André Marques, quase esquina Silva Jardim, no centro da cidade.
Naquela tarde, ao chegar em casa, estava um pouco mais nervoso do que o habitual e, deparou-se com o menino jogando bola no meio da rua. Apesar da irritação, não perdeu a pose, nem a elegância:
- Éden, filho meu. Retira-te do leito da via pública, pois os veículos poderão vir apanhar-te!
E o menino, concentrado na jogada, só respondeu:
- Quê, pai?
O soberbo funcionário público suplicou:
-Éden, filho meu. Saia do leito da rua, pois os veículos poderão colhê-lo!
Sem tirar os olhos da bola, Éden respondeu:
- Quê, pai?
Já sem paciência, treplicou:
- Éden, saia já do meio da rua, para não ser atropelado.
E o garoto, apenas...
-Quê, pai?
Foi aí, que o verbo elegante se foi, dando lugar a uma linguagem mais compreensível:
- Vem prá dentro fiadaputa, te cago a pau, te arrebento...
Duas semanas depois, sem ninguém ter mais enxergado qualquer pessoa da família, mudaram-se para lugar incerto. Seu Ezequiel, inclusive, pedira demissão da repartição.Dizem que pediu emprego na prefeitura de Santiago.
hahahahaha, muito bom!
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