quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cartilha para amansar bochincho, quando estoura...

Cartilha para amansar bochincho, quando estoura

e outras rebeliões mais mansas.

Este texto é o que foi mencionado pelo saudoso imortal, meu "Padrinho" Moacyr Scliar. Depois dele, as noites tem mais uma estrela.

Autor: Futuro Delegado da fronteira

            § 1 - Bochinchos em fandangos, bailes e outras festividades em locais fechados:
            a) No caso de fandango, a regra número um é: preservar o gaiteiro, pois o tocador é santo. De fácil identificação, pois normalmente é mulato e velhusco. Mas, não se engane, normalmente, é cobra criada em peleja;
            b) Identifique a causa da desavença: Normalmente é china, morena, de venta rasgada, tem pose de dona de rodeio, anca larga, olhar de cegar até quem tem catarata. É, em geral, a mulher do dono do galpão ou seu achego de invernada. Encontrando a bugra, aparte-a para local isolado do fervo;
            c) É terminantemente proibido se engraçar com a fulana;
            d) Em caso de tiroteio, deite-se no chão, porque o santo é de barro;
            e) Abra um clarão, no meio do fumaréu, defendendo, na curva do braço esquerdo, que deve estar envolto no pala, qualquer tentativa de pranchaço. Caso o milico seja canhoto, vale a razão inversa;
            f) Ao ver os fardados, os nervosinhos geralmente ficam com cara de anjinhos, mas no caso da milícia paisana, nem sempre são reconhecidos, por isso, se necessário dê um ou dois tiros de garrucha para o alto, e ninguém sairá ferido, porque a palha-de-santa-fé aceita bem os balaços;
            g) A recomendação retro, fará alguns se cagarem nas calças, mas pode haver algum valentão no meio da turba, por isso grite bem alto: - Acabou o banzé, é a polícia, se alguém se fresquear, vai levar chumbo prá valer, porque jendarme é só do outro lado da ponte;
            h) Acalmados os ânimos, é condição sine qua non, mandar a bailanta continuar, porque se não for tomada esta providência, a bosta se espalha prá valer. Aí, só a guarda nacional prá segurar o entrevero que vai se formar. E, afinal, o bochincheiro tem que ganhar a vida, para poder pagar os extras da milícia, e defender o leite das crianças;
            i) Antes de se retirar, os de serviço têm que dançar uma marca de vanerão, em respeito às pessoas de bem, ali presentes, e ao gaiteiro, que afinal de contas, não teve nada a ver com o tentame de folia;
            j) Aceite, sem receio, os tragos de canha, oferecidos pelo dono da copa, e leve para tomar no postinho. Primeiro: porque ninguém é de ferro. Segundo: porque seria um desaforo com o dono da casa. Terceiro e último, deste item: que seria um desperdício não provar um contrabando de primeira linha, até porque, ele não seria besta de oferecer produto de segunda, justo para a polícia.
            § 2 - Rebeliões em penitenciária e cadeiões:
            a) Nunca negocie com os rebelados, pois eles sempre têm um bom negócio para lhe oferecer, e você pode cair em tentação.
            b) Nunca use cachorros, nestes conflitos, pois os bichinhos podem se sentir em casa com os amotinados. São todos da mesma espécie.
            c) É proibido usar gás lacrimogêneo, pois o produto pode induzir os rebeldes a ficarem doidões. Use esterco de vaca, bem seca. Ponha fogo, e jogue no meio da rebelião. Não existe melhor remédio para espantar mosquito borrachudo, e intoxicar detento que está criando caso.

            d) O antigo método de deixar os amotinados sem comida, é besteira da grossa! Encha a pança deles de comida, e da boa, pois é justo aí, que eles ficarão com preguiça, e serão facilmente dominados.
            e) Se a rebelião for motivada por excesso de lotação da cadeia, faça-os dormir ao relento, para que fiquem chuleando as estrelas e madrugando as luas; se estiver frio de renguear cusco, melhor ainda, então eles saberão que cela apertada é melhor do que amanhecer encarangado de geada, e ter que esquentar o saco, à bem de conseguir mijar direito.
            § Parágrafo Único - Outras sugestões poderiam ser inseridas neste projeto de manual, mas achei por bem ficar só com essas, que são boazinhas, porque se não, o pessoal dos Direitos Humanos ia querer mandar me capar, e eu gosto do jeito que a natureza me fez. Afinal, não nasci boi. Nasci colhudo.

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